Não há luz sem escuridão.
_Existe uma razão para os imóveis aqui serem tão baratos... - disse Senhor Aurélio, dando uma mordida no pão de caramelo.
_Já estou ciente do desastre. Uma grande tragédia, mesmo.- Luíza retirou o avental de cozinha, resmungando baixinho por retornarem àquele assunto novamente.
O Senhor Aurélio e sua esposa Dona Mônica eram vizinhos sociáveis e gentis, mas Luíza confessava a si mesma o desconforto nos primeiros dias de mudança. Ambos viviam vigiando sua casa, especialmente pelas frestas das janelas abertas. Um dia, ao serem interrogados, deram a desculpa de que estavam "protegendo a família".
_ Mas proteger de quê? - perguntou Júlia, após, em um flagra da espionagem, sua mãe responder que ninguém ali precisava de proteção.
_Da coisa que nos persegue. - respondeu Sr. Aurélio, com olhar sombrio.
_Que coisa?
_A coisa que causou o massacre no labirinto. Temos certeza que ela nos amaldiçoa desde então...
_Ora, com todo o respeito, mas já chega! Não veem que estão assustando minha filha Cecília? - interrompeu Luíza, visivelmente irritada.
Em seguida, suspirando, olhou para Júlia e retirou-se com a filha mais nova no colo.
_Senhores... - disse Júlia, quase sussurrando para que a mãe não a ouvisse - apareçam aqui amanhã, minha mãe fará pão de caramelo.
Sorridente, o casal acenou para a menina, que entrou rapidamente na casa.
Ao fechar a porta, Júlia ainda os espiou até se certificar que tinham ido embora.
"Uffa..." Mas a curiosidade, ao mesmo tempo, a atiçava. Mesmo que não acreditasse em nada paranormal, o que raios havia acontecido de tão surreal para os vizinhos afirmarem isso?