Não há luz sem escuridão.
Podia sentir um cheiro esquisito, que para ela era indecifrável. Teria se sentido em casa, se não tivesse aberto os olhos numa fresta. Uma gota quente escorreu pela sua testa quando ela uniu forças para se mover. Tonta, pode notar, no escuro, que não estava na cama, mas no chão de algum lugar desconhecido. Nada ali era visível, mas o cheiro, as texturas que sentia com o rosto - marcado pelo atrito de alguma coisa irritante -, eram de uma obscuridade que a faria arrepiar-se se tivesse condições para reagir. Seus pés estavam amarrados. Suas mãos inchadas, como se picadas por insetos. Enlouquecida, lembrou-se dos avisos bizarros da irmãzinha, sobre o labirinto, sobre algo ruim, sobre a mãe. A mãe. A única que poderia...
O que é, o que é? Existo, mas não posso ser visto. Quer encontrar Júlia? Me veja.
“MÃE, MÃE, MÃE! SOCORRO, MÃE!” – Por um momento, ela pensou que tinha gritado, mas isso foi sua voz interior, aterrorizada com o incerto sobre seu destino.